Estudo da Funceme revela cicatrizes de queimadas que se estendem por mais de 1.800 km² no Ceará

31 de outubro de 2025 - 07:41 # # # #

Resposta espectral de uma cicatriz de queimada (roxo) nas imagens de satélite em Icó (FOTO: Landsat)

Resposta espectral de uma cicatriz de queimada (roxo) nas imagens de satélite em Icó (FOTO: Landsat)

Um estudo inédito da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) divulgado nesse mês de outubro revela o tamanho e a evolução das “cicatrizes de queimadas” deixadas no território cearense entre 2020 e 2024.

As análises, realizadas com base em imagens de satélite e processadas por meio da plataforma Google Earth Engine (GEE), mostram que os incêndios florestais e queimadas continuam sendo uma das principais pressões ambientais sobre a Caatinga, especialmente entre os meses de setembro e dezembro, período mais seco do ano no estado.

Entre os anos analisados, o estudo realizado pela Gerência de Estudos e Pesquisas em Meio Ambiente aponta que 2023 foi o mais crítico, com 1.881,79 km² de área queimada, o dobro da média histórica do período e mais que o triplo do registrado em 2021, quando o total foi de 752,13 km². Já 2024 apresentou uma leve redução, com 1.380,26 km², mas ainda manteve números superiores aos observados no início da série.

O relatório também identificou os municípios com maiores extensões de áreas queimadas ao longo do período. Em 2022, o destaque foi para Icó, com 55,98 km² de área queimada, seguido de Santa Quitéria (32,65 km²), Jaguaribe (28,52 km²), Sobral (28,01 km²) e Iguatu (24,57 km²). Outros municípios que chamaram atenção foram Cariré, Orós, Barro, Granja e Acopiara, todos com valores acima de 15 km².

 

Município 2022 (km²) 2023 (km²) 2024 (km²)
Icó 55,98 119,68 44,89
Santa Quitéria 32,65 35,43 32,24
Jaguaribe 28,52
Sobral 28,01 43,69
Iguatu 24,57
Acopiara 15,37 63,87 47,04
Caririaçu 53,85
Jucás 50,78
Várzea Alegre 49,96
Assaré 43,88 27,22
Mombaça 41,20 36,67
Araripe 37,05
Crateús 31,48
Missão Velha 28,84
Aiuaba 27,99
Pedra Branca 27,66

 

Causas

Segundo os pesquisadores, as condições de seca, a baixa umidade do ar e o uso do fogo em atividades agropecuárias estão entre os principais fatores que favorecem a propagação das chamas. Além dos impactos sobre a vegetação nativa, as queimadas causam perda de biodiversidade, emissão de gases de efeito estufa e prejuízos às comunidades rurais.

A análise também mostra forte sazonalidade: outubro e novembro concentram os maiores danos ambientais, respondendo por cerca de 75% das áreas queimadas em alguns anos.

Em 2023, o mês de novembro atingiu o recorde da série, com 749,65 km² queimados, enquanto dezembro de 2024 apresentou o maior valor já registrado para o mês, com 445,14 km². Setembro, embora menos expressivo, chegou a ultrapassar 220 km² queimados naquele mesmo 2023.

 

Importância

Para os especialistas da Funceme, o mapeamento das cicatrizes de fogo ao longo dos cinco anos oferece subsídios fundamentais para políticas públicas de prevenção e combate às queimadas, bem como para ações de manejo sustentável em áreas mais vulneráveis do Ceará.

“As cicatrizes de queimadas são marcas visíveis do impacto humano e climático sobre o território. Entender onde e quando elas ocorrem é essencial para planejar estratégias de mitigação e evitar que essas áreas se tornem ainda mais degradadas”, destaca a equipe técnica responsável pelo estudo.

Apesar das variações entre os anos, o relatório reforça que a pressão do fogo sobre o semiárido cearense segue alta, exigindo atenção contínua e integração entre ciência, gestão ambiental e comunidades locais para frear os danos que continuam deixando novas cicatrizes no solo e na paisagem do estado.